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Sejamos otimistas, mas e se a corda arrebentar? Será do lado mais fraco!


A despedida do século XX se deu com o fim da bipolaridade marcada pela Guerra Fria (1991), mostrando a confirmação do capitalismo liderado pelos EUA e o desmantelamento da então URSS. A força política e militar americana, a dolarização da economia por todos os cantos e o espírito colaborativo mundial passaram, entre tantos outros aspectos, a ditar o rumo da geopolítica mundial. Vivíamos o Ocidente contra o Oriente.


Entramos no século XXI iniciando o primeiro governo Lula (2003/2006), repetido por mais quatro anos (2007/2010), com alguma estabilidade e prosperidade, estampadas até pela famosa figura do nosso Cristo Redentor decolando rumo ao espaço (2009).


Foi nesse contexto que surgiu o BRICS, com a sua primeira cúpula realizada em meados de 2009, ainda sem a presença da África do Sul. Sem ter um enfoque de um bloco econômico como a União Europeia e o Mercosul, esse grupo possui sim um viés mais geopolítico, até então com países ditos emergentes buscando um melhor lugar ao sol.


Com o passar de 15 anos, muita coisa vem mudando. A multipolaridade está de volta. O Velho Continente busca retomar algum protagonismo. China e Rússia já deslancharam, não somente em suas economias, mas também em seus poderios militares. Nessa esteira, a Índia não fica para trás, até com destaque no campo científico-tecnológico. E como se não bastasse, mais cinco países com alguma similitude ideológica se juntaram ao time BRICS: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã (ah, a Argentina pulou do barco).


O que se observa então é o (res)surgimento de um tal “Sul Global”, composto por nações ditas em desenvolvimento (ou mesmo subdesenvolvidas) que procuram buscar atenção e investimentos dos países mais acima da linha do Equador, mais ricos e desenvolvidos. Mas há uma controvérsia no BRICS: desses 10 países atuais, como não considerar o já comprovado gigantismo da China, da Rússia e da Índia ? Passamos a ter o Sul contra o Norte. E esse Sul precisa de uma liderança...


E como o Brasil se enquadra nessa atual conjuntura geopolítica?

Iniciamos o terceiro governo Lula (2023) num ambiente totalmente diferente daquele vivido na primeira década dos anos 2000, tanto interna quanto externamente.


Nos nossos 8,5 milhões de Km², a política segue polarizada; a economia tenta, a todo custo, equilibrar despesas com receitas; saúde, educação e segurança pública permanecem na UTI; e as Forças Armadas clamam por atenção e recursos para garantir a nossa inquestionável soberania. E que não se esqueça da nossa Amazônia, riquíssima e abandonada pelo Estado brasileiro há décadas.


Regionalmente, a histórica e respeitada liderança do Brasil na América Latina já não se mostra tão consolidada como se gostaria (até mesmo no futebol). Do México ao Chile, oito países passarão por eleições em 2024, numa região com instituições fragilizadas e com baixo crescimento econômico. A aproximação do Brasil com Nicarágua e Venezuela demonstra o seu pensamento (e alinhamento) geopolítico, sem contar a incapacidade de atuar mais firmemente no imbróglio entre a mesma Venezuela e a Guiana.


No cenário mundial, as percepções se mostram até mais evidentes. O aumento no número de participantes do BRICS com seu direcionamento ideológico, a simpatia pela Rússia no conflito no leste europeu, e principalmente as atabalhoadas declarações contrárias a Israel (um parceiro de destaque para o Brasil) definem com muita clareza o atual posicionamento brasileiro. E é nesse sentido que o Brasil tenta se posicionar como uma liderança dos pobres, fracos e oprimidos, naquilo chamado “Sul Global”.


Mas e daí?

Internamente, o cenário que se apresenta não é nada favorável, apesar de algumas oportunidades se mostrarem no horizonte e não estarem sequer sendo enxergadas e consequentemente aproveitadas pelas autoridades ditas competentes; no nosso entorno, tensões e incertezas se avolumam, e o Brasil não tem procurado atuar de maneira integradora, com a liderança regional que se espera de um ator de relevância; e mundialmente, posições mais radicais direcionadas para um determinado lado nada democrático poderão impactar a própria sociedade brasileira, dependente sim daquilo que o mundo desenvolvido pode (e deve) nos oferecer. E tal expectativa de liderança sulista tende a “acabar em pizza”. Se a corda arrebentar, não será por falta de aviso...


Diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és.


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