Confira a análise do estrategista-chefe do Rumo Econômico sobre as opiniões divididas do Banco Central
A decisão de reduzir em apenas 0,25% a taxa Selic determinada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) dividiu, de forma definitiva, os integrantes da composição chefiada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto. A ala lulista do órgão, por sua vez, queria a manutenção do ritmo dos cortes em 0,50%, gerando ainda mais controvérsia sobre a sucessão do Banco Central, marcada para o final de 2024.
Na avaliação de Carlos Dias, estrategista-chefe do Rumo Econômico, a decisão de optar por uma redução menor da Selic, conseguida somente com o voto de minerva de Campos Neto, foi mais um acerto do gestor, em meio ao pacote de incertezas da economia brasileira e do cenário internacional.
"O cenário econômico global apresenta desafios consideráveis devido às incertezas sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e a velocidade da queda da inflação em diversas economias", destaca Carlos Dias.
"Os principais bancos centrais estão atuando diligentemente para convergir as taxas de inflação para suas metas, enfrentando pressões nos mercados de trabalho. Esse contexto exige maior cautela dos países emergentes, como o Brasil", comparou.
Carlos Dias apontou outros fatores que podem tem influenciado no comportamento mais cauteloso do BC. O principal deles, a saída da meta de inflação brasileira, embora os indicadores recentes sejam positivos.
"Em nosso país, os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho têm mostrado maior dinamismo do que o previsto. A inflação ao consumidor está em uma trajetória de desinflação, mas as medidas de inflação subjacente permanecem acima da meta", ressalta. "As expectativas de inflação para 2024 e 2025 estão em torno de 3,7% e 3,6%, respectivamente. Lembrando que a meta de inflação fixada pelo Conselho Monetário Nacional é de 3% ao ano", analisa Carlos Dias.
Juros nos EUA e Rio Grande do Sul
Além dos aspectos já mencionados pelo estrategista-chefe do Rumo Econômico, a ala considerada mais conservadora (e menos populista) do Copom colocou na mesa dois fatores preponderantes para não avançar na redução dos juros referenciais da economia: o papel do Federal Reserve (FED) nos Estados Unidos, além da falta de reformas estruturais no Brasil. O quadro de nossa conjuntura ainda sofreu o impacto inesperado com a tragédia humanitária no Rio Grande do Sul, que inevitavelmente irá respingar no âmbito fiscal.
"O Copom avaliou que o cenário externo adverso e as incertezas sobre o ciclo de queda de juros nos Estado Unidos e o processo desinflacionário global demandam uma postura cautelosa na política monetária doméstica", aponta Carlos Dias. "A persistência dessas incertezas sugere que movimentos abruptos no cenário prospectivo são possíveis, reforçando a necessidade de prudência", pondera.
Outros pontos cruciais destacados na reunião do Copom, Carlos Dias reitera, foram a falta de avanço em reformas estruturais, a disciplina fiscal incerta e o aumento do crédito direcionado: itens que podem elevar a taxa de juros neutra, impactando negativamente a eficácia da política monetária e aumentando o custo de deflação.
"Diante desse cenário, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,50% ao ano, considerando essa decisão compatível com a convergência da inflação para a meta até 2025. A política monetária deve permanecer contracionista para consolidar a desinflação e a ancoragem das expectativas.
Como podemos observar, o país navega em mares de incertezas internas e externas, devemos por isso, ter alinhadas as decisões do Comitê, com a melhor técnica e prudência. Entretanto, surpreendeu o mercado, assistir que quatro dos nove membros do Comitê de Política Monetária votassem por uma maior redução da Selic", conclui.
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