Impacto da estiagem afeta transporte, exportações e abastecimento na Amazônia
O porto de Manaus registrou o nível mais baixo do Rio Negro desde o início das medições, em 1902, reflexo de uma seca sem precedentes que está afetando os rios da Amazônia. Com a estiagem extrema, o transporte fluvial, as exportações e o abastecimento de inúmeras comunidades foram severamente comprometidos.
A falta de chuvas, que se intensificou no último ano, trouxe grandes consequências para a região, agravando os incêndios florestais e colocando em estado de emergência dezenas de municípios no Estado do Amazonas. Segundo autoridades locais, mais de meio milhão de pessoas já foram afetadas diretamente pela seca.
De acordo com Valmir Mendonça, chefe de operações do porto de Manaus, o nível do Rio Negro atingiu 12,66 metros nesta sexta-feira, superando o recorde negativo registrado no ano passado. “A previsão é que o nível continue a cair por mais uma ou duas semanas”, disse Mendonça, destacando que essa é a seca mais severa já registrada na região em mais de um século.
Os efeitos da estiagem vão além do Amazonas. O rio Solimões, que se encontra com o rio Negro no famoso "encontro das águas", também está em níveis críticos. Além disso, o rio Madeira, um importante afluente do Amazonas, interrompeu os embarques de grãos devido à baixa vazão de água, impactando a logística regional.
Crise humanitária e ambiental
A seca tem causado uma crise humanitária ao isolar comunidades que dependem dos rios para transporte e abastecimento. A falta de alimentos, água potável e medicamentos está se tornando um desafio crescente para as autoridades, que buscam medidas para mitigar os impactos.
Pesquisadores também relatam a descoberta de carcaças de botos, espécie ameaçada que está sendo empurrada para áreas mais próximas de habitações humanas por conta do nível reduzido das águas. A seca está colocando em risco a biodiversidade local e agravando os incêndios florestais, com o Brasil e a Bolívia enfrentando os maiores números de focos de incêndio em mais de uma década.
Perspectivas climáticas
De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), esta é a pior seca registrada no Brasil desde os anos 1950. Especialistas acreditam que a região amazônica pode demorar até 2026 para recuperar seus níveis de umidade normais, caso o padrão de chuvas continue abaixo da média.
Os efeitos da seca se espalham por toda a América do Sul, atingindo também o rio Paraguai, que registra o nível mais baixo de sua história.
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