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Rio Babilônia: como Madonna expôs as fraturas de um país desgovernado

Enquanto o país chorava pelo RS, organizadores do show de Madonna em Copacabana comemoravam os números da festa

Madonna: exposição e indiferença ao caos brasileiro

Em fevereiro de 2022, quando a pandemia do covid-19 se aproximava de seu último ato, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), respondeu a uma questão durante participação no programa Roda Viva sobre o papel do então presidente da república, Jair Bolsonaro, na condução da crise sanitária.


“Não se pode brincar com algo que matou tanta gente (...)  Acho que ele (Bolsonaro) se conduziu muito mal durante a pandemia. Todos nós temos um papel de líder político”, analisou Paes.


Dois anos mais tarde, em meio à maior epidemia de dengue - e enquanto o país chora pelas vítimas da pior inundação da história do Rio Grande do Sul, a postura do (ainda) prefeito do Rio é totalmente oposta.


Aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Eduardo Paes se manteve convicto ao afirmar que o último show da Celebration Tour da popstar norte-americana Madonna na praia de Copacabana seria, acima de tudo, um sucesso financeiro.


Organizado em parceria com o Itáu e a Rede Globo de Televisão, a produção, segundo palavras do chefe do executivo municipal, custou R$ 10 milhões aos pagadores de impostos, com a promessa de atrair cerca de R$ 300 milhões em negócios, com destaque para o setor de turismo.  


A postagem oficial da prefeitura, logo após a apresentação - que teria atraído 1,6 milhão de espectadores aos entornos do Copacabana Palace - demonstrou, além de orgulho, uma promessa de repetir megaeventos “sempre no mês de maio”.

"Se preparem! Daqui pra frente, maio vai ser o mês de celebrar a mais incrível de todas as cidades! Vai ter sempre alguém pra bater o recorde de público anterior. O Rio é desejado pelo mundo. Temos que ter orgulho disso. Os desafios são muitos mas nós vivemos em lugar especial. Vamos cuidar e ter carinho com nossa cidade. Demos um show nessa semana da Madonna. Viva o Rio e os cariocas!", escreveu Paes em seu perfil no X, evidenciando confiança em sua reeleição.

Madonna no Rio de Janeiro: Bem além do caráter eleitoreiro


Não é segredo - nem mesmo dos fãs ocasionais - que as apresentações conduzidas por Madonna, prestes a completar 66 anos, dão preferência às coreografias erotizadas. Ativista LGBT a cantora, em seus 40 anos de carreira, há tempos não prioriza mais os hits (cada vez mais escassos). A polêmica, de forma proposital, é o carro-chefe de suas turnês.


Contudo, diferente de seus shows regulares em estádios, a performance ao ar livre da cantora nascida em Bay City, próxima a Detroit, expôs suas ideologias e preferências diretamente a um público que, por mais que pudesse estar ciente do conteúdo, acabou atingido pelo impacto subversivo das coreografias sem a mesma responsabilidade de quem paga caros ingressos para ver Madonna.


Não se esperava muito - nem da cantora, muito menos de todas as autoridades e o do veículo responsável pela transmissão - de haver qualquer conscientização sobre cenas que envolveram simulação de sexo explícito para milhões de brasileiros. Nem havia esperança de que a performance fosse adiada, em um gesto nobre aos milhões afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul.


Ainda assim, o mínimo aguardado era uma postura, no mínimo, consciente daqueles que governam o país, e que tanto criticam seus opositores por suas práticas durante o auge da covid-19. 



Marina Silva: "honrada" pela lembrança em Copacabana

Usando as palavras do próprio prefeito do Rio de Janeiro, “não se pode brincar com algo que matou tanta gente”, nem mesmo às vésperas das eleições municipais que podem mantê-lo por mais 4 anos à frente da capital fluminense.


Por fim, e não menos importante, foi notável a conivência do governo Lula em relação à apatia do Rio de Janeiro e dos envolvidos na organização da turnê de Madonna. O show, para quem não pôde conferir, reservou um momento de homenagens para figuras proeminentes da sociedade.


Um desses personagens foi a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), que se disse “honrada” ao ver sua face no telão da popstar. O tributo, de gosto duvidoso, também se lembrou do revolucionário Che Guevara, indicando que algo ainda mais errado ocorreu naquela noite de sábado em Copacabana.

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