Reveja o que Lula e o PT pensavam do Plano Real durante sua implementação em 1994
Há exatamente 30 anos, o Brasil dava uma guinada radical em seu sistema monetário. Alvo principal: o combate à avassaladora inflação, que corroía o poder aquisitivo do cidadão e afastava o país das notas de crédito positivas.
A decisão de frear o dragão inflacionário - que em 1993 fechou com IPCA anual de 2478% - partiu da equipe econômica do então presidente interino Itamar Franco, o substituto imediato no comando do executivo após a renúncia (e eventual processo de impeachment à revelia) de Fernando Collor de Mello.
Juntos, nomes como Gustavo Franco, Pérsio Arida e o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, deram início à conversão monetária. O primeiro passo foi a criação da URV (Unidade Real de Valor), que agiu como indexador destinado a promover uma convergência geral de preços e salários.
No embalo da transformação social e econômica gerada pela implementação do Real, FHC se candidatou à presidência da república, com expectativa de traduzir em votos os primeiros efeitos do plano. Do outro lado do espectro político, surgia o PT e uma agressiva - e típica - campanha contra a retomada da estabilidade monetária.
Em meio à troca de farpas entre antigos amigos, o já aspirante à presidência, Fernando Henrique cardoso, desafiou Luiz Inácio Lula da Silva a explicar o motivo de seu partido ter obstruído a MP (medida provisória criadora da URV).
"Se, no debate, o Lula não for capaz de me convencer que o plano está incorreto, terá que dizer que não sabe o que faz com a inflação", provocou.
Lula - em sua segunda tentativa de assumir o Palácio do Planalto - rebateu a provocação de FHC durante a participação em um programa do SBT.
“O sociólogo está nervoso pela aliança mortal que fez e eu não posso fazer o jogo dos desesperados”, tripudiou.
PT X Brasil
A disposição de Lula e do Partido dos Trabalhadores contra a aplicação de remédios amargos - mas necessários - para o país não é prática atual e hoje podem ser comparadas aos ataques públicos ao Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto.
Ser oposição apenas pelo poder, aliás, tem sido o modus operandi petista desde sua fundação. Os bombardeios contra o Plano Real não foram raros.
Em 15 de janeiro de 1994, por exemplo, Lula concedeu uma entrevista ao Estado de S. Paulo, onde o então pré-candidato à presidência da República acusou FHC de ser subserviente ao FMI.
“Esse plano de estabilização não tem nenhuma novidade. Suas medidas refletem as orientações do FMI. O fato é que os trabalhadores terão perdas salariais de no mínimo 30%. Ainda não há clima, hoje, para uma greve geral, mas, quando os trabalhadores perceberem que estão perdendo com o plano, aí sim haverá condições”, ameaçou Lula.
Assim como acontece em seu controverso terceiro mandato, Lula tinha apoio total e irrestrito dos caciques petistas, que atiravam mais gasolina à fogueira.
O atual presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante, por exemplo, foi um dos 3 coordenadores da campanha de Lula em 1994. Naquele ano, o mesmo político que apoiou a fracassada tentativa de congelar preços no Plano Cruzado optou por seguir pela contramão.
“Com esse plano, o apartheid social vai se agravar”, profetizou Mercadante, em uma entrevista à Folha de S. Paulo, um mês após a adoção do real.
“Essa concepção econômica liderada pelo Fernando Henrique é incapaz de entender o significado do fomento às micro e pequenas empresas, ou de tratar a economia informal como um problema econômico real. Ou ainda de verificar que o emprego não pode ser mais tratado como um subproduto do crescimento econômico”, criticou.
Segunda moeda mais desvalorizada em 2024
Em sua terceira década, o Plano Real tem passado por provações - sendo a pior delas durante o governo Dilma 2, quando a política econômica da petista amargou uma retração no Produto Interno Bruto de 7,56% entre 2015 e 2016.
Já no terreno do governo Lula III, quem realmente parece estar ameaçado é o aniversariante do dia. Isso porque o real já é a segunda moeda que mais perdeu seu valor em 2024 - atrás até mesmo do peso argentino, que segue em recuperação na UTI.
O que pode se dizer, ao contrário de Lula e da oposição petista em 1994, a torcida é para que a nossa moeda não sucumba aos atentados e vilipendios da equipe econômica governista.
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