Nova Ordem Mundial
- Núcleo de Notícias
- 15 de jun. de 2024
- 3 min de leitura
Imagem: Karolina Grabowska/Pexels
O mundo como conhecemos foi criado em Westfalia. É assim que Henry Kissinger começa seu livro “A Ordem Mundial” com a leve tarefa de resumir os acontecimentos desde a criação dos Estados Nacionais modernos. Os tratados assinados puseram fim à guerra dos trinta anos, brutalmente travada no que hoje é a Alemanha, dando uma sobrevida ao abalado Sacro Império Romano Germânico.
Se há algo que aprendemos com o ciclo das grandes civilizações é que nenhum Império dura para sempre. Com a dissolução do Sacro Império, uma miríade de cidades-estados se instaurou no coração da Europa. Apesar da supremacia britânica nos oceanos, o delicado equilíbrio de poder no continente se devia à grande quantidade de países, nenhum capaz de sobrepujar o outro. Apenas a unificação do Império Alemão, fruto da determinação do Chanceler de Ferro, Otto Von Bismarck, alteraria tal impasse. E o Zeitgeist, o Espírito do Tempo, arrastaria o mundo para duas guerras mundiais.
O vencedor destes conflitos iria emergir, não da Europa, mas do novo mundo. Ao final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos reinavam como indiscutível potência militar e econômica. Pela sua própria visão excepcionalista, cabia a eles, portanto, arrumar a casa e dentre os tópicos mais urgentes estava a reestruturação do sistema monetário internacional.
O tema gerou grandes debates. A Inglaterra enviou John Maynard Keynes como conselheiro do Tesouro. Keynes, em 1925, escreveu “As Consequências Econômicas de Mr. Churchill”, panfleto no qual criticava a tentativa de retorno da Inglaterra ao padrão-ouro na sua paridade do pré-Grande Guerra e ilustrava as deficiências do padrão ouro. Do lado americano, representados por Harry Dexter White, havia grande preocupação de que não se esquecessem das lições do pós-primeira guerra, quando políticas protecionistas por parte dos europeus lançaram os Estados Unidos na Grande Depressão.
Com estes dois episódios em mente, quarenta e quatro países se reuniram, em julho de 1944, na cidade de Bretton Woods, no estado de New Hampshire, para estabelecer um novo sistema. Keynes argumentava por uma moeda global com um banco central global. Já os americanos estavam preocupados em fazer com que o país apresentasse significativos superávits na balança comercial, o que os transformaria no maior detentor de reservas e responsável pelo banco. Como solução, foi criado um fundo de estabilização, o Fundo Monetário Internacional (FMI). Os demais países concordaram em estabelecer uma paridade frente ao dólar, que, por sua vez, seria lastreado em ouro.
A segunda metade do século XX presenciou o nascimento do mundo bipolar e, em 1971, o fim da convertibilidade do dólar em ouro. Atualmente, o ciclo dos grandes impérios parece se impor sobre a democracia americana que luta para manter sua hegemonia. As forças americanas parecem tensionadas ao serem obrigadas a lutar no Oriente Médio, ao mesmo tempo em que financia a Guerra da Ucrânia, enfrenta instabilidades nas Américas Central e do Sul e se prepara para um possível confronto no Pacífico.
Do outro oceano, a China aproveita para fazer sua jogada. Matéria do Yicai, do dia 27 de maio, reporta que um ex-membro do banco central chines declarou, em conferência para comemorar os oitenta anos do tratado, que o mundo precisa de um novo sistema de Bretton Woods. A afirmação passou despercebida por grande parte da mídia ocidental. Entretanto, para um país com ambições hegemônicas como a China, deve-se pesar com sobriedade tal comentário.
O Banco Central Chinês (PBoC), desde novembro de 2022, tem acumulado vastas reservas de ouro. Apesar dos números de maio reportarem estabilidade no balanço do PBoC, não é impossível que o banco retome as compras no médio-prazo. Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, já deixou claras suas ambições de que o Yuan se torne uma moeda global, assim como o dólar. Tal ambição parece ser um dos motivos que obrigam o PBoC a manter sua moeda artificialmente valorizada em relação à precificação internacional.
A ambição de capitanear um novo Bretton Woods, aliado a outras iniciativas chinesas, como o “Belt and Road Iniciative”, sugerem que a China perseguirá sua meta de reformular o sistema internacional, ao invés de ser apenas mais um participante dele.
Estaremos, nós, presenciando o nascimento de uma Nova Ordem Mundial?
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