Ataques, investidas nos bastidores e interferências na diretoria da Vale culminaram com a renúncia de um de seus conselheiros
Montagem
No final de janeiro deste ano - ao notar que não conseguiria emplacar o ex-ministro Guido Mantega no cargo de CEO da Vale - o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou um processo de “derretimento” da companhia. O ataque mais direto aconteceu em entrevista concedida para a Rede TV. Na conversa com o jornalista Kennedy Alencar, Lula disparou contra os alicerces da quarta maior empresa mineradora do mundo.
“A Vale não pode pensar que ela é dona do Brasil, não pode”, afirmou Lula. “Ela não pode pensar que ela pode mais do que o Brasil. Empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro”, alertou.
O mercado entendeu a mensagem. Após desmentir que o governo estava se desdobrando para indicar Mantega à presidência, as ações da Vale simplesmente despencaram. Nos últimos três meses, aliás, foram perdidos R$ 48 bilhões em valor de mercado, em meio aos rumores de intervenção governamental.
Após as investidas, o governo Lula até veio a público garantir ter desistido de tentar “sugerir” nomes para a presidência da companhia. Porém, logo após perder a queda de braço com a empresa, o Ministério dos Transportes anunciou que cobraria uma multa de R$ 20 bilhões, referente a concessões ferroviárias renovadas no governo Bolsonaro.
O aparente silêncio das partes após a cobrança do governo serviu de prelúdio para o anúncio que abalou as estruturas da mineradora. Na última segunda-feira (11), o conselheiro José Luciano Duarte Penido renunciou ao cargo no colegiado da Vale, alegando “manipulação” no processo sucessório.
“No conselho se formou uma maioria cimentada por interesses específicos de alguns acionistas lá representados, por alguns com agendas bastante pessoais e por outros com evidentes conflitos de interesse. O processo tem sido operado por frequentes, detalhados e tendenciosos vazamentos à imprensa, em claro descompromisso com a confidencialidade”, escreveu o conselheiro em carta aberta à Vale.
Vale não comenta saída de conselheiro
Contatada pelo Rumo Econômico, a Vale afirmou não comentar casos internos. A assessoria de comunicação da mineradora, contudo, divulgou um comunicado proforma sobre a saída do conselheiro.
“A Vale informa que, por meio de carta submetida na presente data, que o Sr. José Luciano Duarte Penido apresentou sua renúncia ao cargo de membro do Conselho de Administração da Vale. Diante desta manifestação, a Vale esclarece que o Conselho de Administração seguirá o curso regular de seus trabalhos, em conformidade com o Estatuto Social e as políticas corporativas da Vale, em linha com as legislações aplicáveis. O Conselho de Administração da Vale agradece ao Sr. Penido os serviços prestados desde 2019 como conselheiro da Companhia
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