Saiba que o oficial da reserva da Marinha, Robinson Farinazzo, e o ex-chanceler Ernesto Araújo pensam sobre o ataque contra Israel
Logo após o ataque do Irã a Israel nas primeiras horas do domingo (14) - horário de Tel Aviv - o governo brasileiro soltou uma nota por meio do Ministério das Relações Exteriores, em que cita sua “grave preocupação com relatos” sobre o “envio de drones e mísseis iranianos ao território israelense”.
Sem condenar os disparos de cerca de 300 projéteis executado por ordem do Aiatolá Ali Khamenei contra Israel, o Itamaraty ainda questionou se realmente havia sido obra da Guarda Revolucionária iraniana e pediu “máxima contenção e conclama a comunidade internacional a mobilizar esforços no sentido de evitar uma escalada” do conflito.
Para comentar sobre o tema, o Rumo Econômico ouviu dois especialistas em geopolítica, que ofereceram visões bem distintas sobre as posições de Brasil, Irã e Israel sobre o futuro do teatro de guerra do Oriente Médio.
Com extensa expertise em tecnologia aeronáutica, o oficial da reserva da Marinha brasileira, Robinson Farinazzo Casal, acredita que a postura brasileira apenas acompanhou sua tradicional linha de neutralidade nos conflitos internacionais.
“Temos laços comerciais, diplomáticos, e econômicos com Israel e Irã”, apontou o comandante da Marinha. “Então, o Itamaraty, de uma forma prudente, optou por apelar a um entendimento para uma desescalada e evitar que o conflito tome proporções ainda maiores. Foi uma posição mais acertada que diversos países europeus”, destaca Farinazzo.
Já o diplomata e ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, acredita que a postura do Brasil foi apenas para endossar as ações do Irã e fingir neutralidade.
“O Brasil realmente tem esse papel de fingir neutralidade e abrir o caminho para os totalitários agirem”, afirma Araújo. “Mas o Itamaraty quase sempre faz isso. Nunca se posicionou. A expressão “relato de envio de mísseis” e o pisar de ovos, quando fala sobre tiranos, é uma espécie de tradição de nossa diplomacia que eu tentei romper e sempre fui criticado pela mesma imprensa que hoje condena a postura do governo brasileiro”, lamenta o ex-ministro.
Irã sofreu pressão após ataque à embaixada na Síria
O comandante Robinson Farinazzo também acredita que a missão iraniana teve grande influência da ala mais radical do país. Segundo ele, se não ocorresse a reação ao ataque que exterminou Mohammed Reza Zahedi – um dos principais municiadores do Hamas e Hezbollah - o aiatolá poderia ter caído.
“A decisão foi tomada por pressão da linha dura do Irã”, aponta o oficial da Marinha. “Houve uma revolta muito grande, principalmente nas alas mais radicais, contra o ataque de Israel à embaixada iraniana em Damasco, na Síria. Então, o gabinete do aiatolá Ali Khamenei foi pressionado. Se ele não tivesse tomado a decisão de atacar Israel, acredito que ele iria cair”, calcula.
Farinazzo chama a atenção para o fato de que o ataque com 300 projéteis - entre drones e mísseis - foi apenas uma amostra do poderio iraniano contra Israel. Segundo o brasileiro, o país de Benjamin Netanyahu já não tem mais hegemonia no Oriente Médio.
“O que Israel não percebeu é que o Irã tem hoje a maior força de mísseis do Oriente Médio e a supremacia militar de Israel não existe mais. Se Israel escalar essa crise, não sabemos onde tudo isso vai parar”, analisa.
Embora Israel tenha recebido cooperação de Reino Unido, França, Jordânia e Estados Unidos, Ernesto Araújo acredita - assim como o comandante Farinazzo - que a administração Biden não deve reagir com toda a sua força para conter a escalada iraniana.
“O Irã colocou uma armadilha para Israel”, afirma o ex-ministro. Israel demonstraria fraqueza e vulnerabilidade se não agisse. Mas se reagisse, justificaria uma reação maior do Irã e de seus aliados”, pondera.
Ernesto Araújo, por sua vez, questiona ainda se o atual governo norte-americano - por se dispor apenas a ajudar na defesa e não ocupar seu lugar de liderança no tabuleiro geopolítico - poderia ter "interesses obscuros" em um dos lados.
“Todo o aparato totalitário eurasiano, formado pelo eixo Russo-Chnês, detesta o (Benjamin) Netanyahu. Precisamos saber se há infiltração de interesse iraniano em Washington. Essa reação tão comedida do Biden - ‘Olha, Israel, não faça nada’ - é uma coisa interessante para nós pensarmos”, analisa.
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