EUA devem propor reconhecimento da Crimeia como território russo em acordo de paz com a Ucrânia
- Núcleo de Notícias
- 22 de abr.
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Administração Trump busca congelar fronteiras do conflito e aliviar tensões com Moscou; proposta gera desconforto entre aliados europeus e Kiev

Os Estados Unidos devem apresentar uma proposta de paz que inclui o reconhecimento formal da Crimeia como território russo e o congelamento das linhas de frente no conflito entre Rússia e Ucrânia. A informação foi divulgada pelo Washington Post, com base em fontes próximas às negociações. A iniciativa é parte de um esforço do presidente Donald Trump para encerrar a guerra por meio de um acordo que, ao mesmo tempo, garanta estabilidade e preserve interesses estratégicos norte-americanos e europeus.
Segundo o jornal, as conversas ocorrerão em Londres nesta quarta-feira, com a participação de representantes ucranianos e europeus. Estarão presentes o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e os enviados especiais Steve Witkoff e Keith Kellogg, além de chanceleres e conselheiros de segurança de França, Alemanha, Reino Unido e Ucrânia.
As propostas americanas foram previamente discutidas com autoridades ucranianas em Paris na semana passada. Elas preveem que Washington reconheça oficialmente a soberania russa sobre a Crimeia, anexada em 2014 após um referendo contestado internacionalmente. Em troca, os Estados Unidos estariam dispostos a considerar a suspensão progressiva das sanções contra Moscou, dentro de um acordo de paz mais abrangente.
Fontes envolvidas nas tratativas relataram que a pressão dos EUA sobre o governo ucraniano tem sido “assombrosa”, com autoridades de Washington exigindo flexibilidade para viabilizar uma solução diplomática. Paralelamente, os países europeus participantes devem exigir garantias de segurança para a Ucrânia e discutir um plano de reconstrução do país, possivelmente financiado com ativos russos congelados no Ocidente.
O presidente Trump declarou na segunda-feira que pretende divulgar os detalhes da proposta nos próximos dias e alertou que pode abandonar o processo se não houver avanços significativos.
O enviado especial Steve Witkoff, que tem mantido diálogo direto com autoridades russas, incluindo o presidente Vladimir Putin, também deve visitar Moscou ainda nesta semana. De acordo com fontes, a ideia de reconhecer a Crimeia como russa partiu do próprio Witkoff, numa fórmula que não exige, inicialmente, o reconhecimento explícito da Ucrânia.
A Crimeia foi incorporada à Federação Russa após o referendo de 2014, realizado em meio a um contexto de instabilidade política em Kiev, com apoio de potências ocidentais ao novo governo ucraniano. Tanto Kiev quanto seus aliados têm se recusado a reconhecer o resultado da consulta popular, classificando-a como ilegal.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, por sua vez, já afirmou que não aceitará ceder qualquer parte do território nacional e insiste na continuidade da ajuda militar por parte dos aliados — algo que a administração Trump tem sinalizado que pretende interromper, como parte de sua nova abordagem.
Moscou tem reiterado que a soberania sobre a Crimeia, a cidade de Sevastopol e outras quatro regiões ucranianas anexadas em 2022 não está em discussão. Para o Kremlin, o reconhecimento do que chama de “realidade no terreno” é condição fundamental para um acordo duradouro.
A proposta americana marca uma mudança drástica na política externa ocidental e levanta preocupações sobre a possibilidade de sacrificar a integridade territorial da Ucrânia em nome da estabilidade geopolítica. O desenrolar das negociações poderá determinar não apenas o futuro do conflito, mas também os contornos da nova ordem internacional que se forma sob a liderança de Trump.
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