Ernesto Araújo: “Se Trump for eleito, as retaliações ao Brasil serão mais intensas”
- Instituto Democracia e Liberdade
- 22 de fev. de 2024
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Em entrevista exclusiva ao Rumo Econômico, o ex-chanceler acredita que os EUA possam aplicar sanções ao Brasil, após os ataques de Lula a Israel

Ernesto Araújo - Agência Brasil/EBC
Recado ao leitor: no momento em que essa entrevista chegar ao seu alcance nas páginas do Rumo Econômico, ela corre o risco de estar desatualizada. A cada momento, o governo brasileiro tem demonstrado disposição a combater o Estado de Israel, medida que compromete severamente as relações diplomáticas entre as nações.
Um exemplo da celeridade dessas medidas aconteceu logo após o Rumo Econômico conversar com o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sobre as consequências dos ataques promovidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos judeus e ao governo de Benjamin Netanyahu.
Na tarde de terça-feira (20), a gestão Lula decidiu denunciar Israel na Corte Internacional de Haia, alegando ocupações ilegais do país em território palestino.
No momento em que o governo brasileiro anunciou mais uma ofensiva contra Israel, denunciando o país na Corte Internacional de Haia por “ocupações ilegais” de territórios palestinos, o ex-chanceler Ernesto Araújo acabava de conceder uma entrevista exclusiva ao Rumo Econômico, ainda para comentar o ataque feito a todos os judeus pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em sua passagem turbulenta pela África, Lula não economizou munição contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o povo israelense.
No domingo (18), Lula chegou a dizer que Israel havia assassinado mais de 30 mil palestinos, além de ferir mais 70 mil. A introdução foi apenas um ensaio, antes de o petista mirar toda sua artilharia contra os judeus, comparando as mortes na faixa de Gaza ao Holocausto comandado por Adolf Hitler entre 1939 e 1945.
O ataque não foi ignorado pelo governo israelense, que decidiu tornar Lula “persona non grata” no país. em repúdio a infeliz comparação:
“É importante lembrar que em 2010 o Brasil foi o 1º país a reconhecer o Estado palestino. É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem que ser grande. O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”.
A seguir, acompanhe a íntegra nessa conversa com o ex-chanceler.
Rumo Econômico - Como o sr. analisa as consequências desse ataque verbal promovido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Estado de Israel? Isso tem ocorrido praticamente em todas as entrevistas e, ao contrário da tímida declaração sobre o ataque terrorista do Hamas, as falas de Lula têm sido cada vez mais incisivas.
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Ernesto Araújo - Em curto prazo vejo um total desgaste da boa-vontade que a maioria dos países democráticos tinha para com o Lula. Até agora, ele ainda era o “cara da Amazônia” e do discurso climático, e sua opção pró-totalitária na geopolítica era ignorada - absurdamente. Acho que agora ele será o antissemita pró-Putin, e o discurso climático já não o levará longe.
Rumo Econômico - Até o momento, o principal aliado de Israel, os Estados Unidos, não promoveram retaliações ao Brasil. Isso nem mesmo ocorreu quando a Marinha permitiu que navios iranianos ancorassem em águas nacionais. O sr. acredita que isso possa ocorrer, embora o presidente seja o democrata Joe Biden?
Ernesto Araújo - De fato, vejo a possibilidade de alguma retaliação econômica, mas principalmente política, em razão, principalmente, da influência das associações judaicas americanas em Washington, tanto junto a democratas quanto republicanos. Agora, se em 2024 vier o Trump, aí sim poderiam vir medidas mais intensas.
Rumo Econômico - Como o sr. avalia a relação diplomática com Israel em seu período no Itamaraty? Relembrando que Netanyahu chegou a enviar, de forma gratuita, tropas das Forças de Defesa de Israel para socorrer as vítimas de Brumadinho em 2019.
Ernesto Araújo - Sim, a relação foi excelente. Desde o começo, a construímos com base em amizade, afinidade nas visões de mundo - que incluem liberdade e valores civilizacionais e muito ceticismo quanto à ONU - além dos interesses concretos.
Ficou claro para Israel desde o começo que, com Bolsonaro na presidência e eu na chancelaria, era um novo Brasil. Havia muita resistência interna no Itamaraty a uma aproximação com Israel, e eu bati de frente contra isso.
Rumo Econômico - O sr, inclusive, trabalhou lado a lado com o Ministro das Relações Exteriores Israel Katz, que acaba de classificar a fala de Lula como “promíscua” e “delirante”
Ernesto Araújo - De fato. Os israelenses entenderam imediatamente que tinham, no Brasil, um amigo. Trabalhei muito bem com os chanceleres Israel Katz - que agora voltou ao cargo e Gabi Ashkenazi. Ainda tive reuniões com o próprio Netanyahu, a quem admiro muito.
A relação especial com Israel começou a ser desconstruída ainda no governo Bolsonaro, depois que eu deixei o Itamaraty. Meu sucessor foi uma pessoa (Carlos Alberto França) sem qualquer desejo ou capacidade de enfrentar a mentalidade anti-Israel predominante no Itamaraty e abandonou completamente a política externa original de Bolsonaro que eu vinha implementando.
“A imagem de Lula e do Brasil será ligada ao antissemitismo e ao terrorismo” - Ernesto Araújo

Arquivo Itamaraty
Rumo Econômico - Tivemos ainda um comunicado enviado pelo Telegram oficial do Hamas, elogiando com veemência a comparação feita por Lula com o Holocausto. O que isso representa para o país em termos diplomáticos?
Ernesto Araújo - Certamente, isso irá ser somado à imagem de antissemitismo e pró-terrorismo, e que passa a ser a imagem internacional de Lula.
Rumo Econômico - As ligações do governo Lula com grupos como o Hamas parecem desmentir as decisões tomadas pelo Tribunal Superior Eleitoral nas eleições de 2022. O sr. acredita que isso gerou interferência no pleito?
Ernesto Araújo - O processo (eleitoral), certamente, não foi conduzido de forma imparcial. Talvez, agora, que Lula deixa de ser o “queridinho” dos ambientalistas globais, o mundo comece a enxergar esse tipo de coisa.
Rumo Econômico - Saindo um pouco do Oriente Médio em direção ao leste europeu. O sr. acredita que Vladmir Putin tenha relação direta com a morte de seu principal opositor, Alexei Navalny?
Ernesto Araújo - Não sou eu que o digo: todos os jornalistas independentes e os dissidentes russos (como o enxadrista Garry Kasparov) apontam o envolvimento direto ou indireto de Putin na morte de seus opositores. O Brics, realmente, se confirma agora como um bloco totalitário, pró-terrorista e anti-Israel. Nada de bom há mais para esperar desse bloco depois da entrada do Irã.
Rumo Econômico - A Argentina seria um dos membros, antes das eleições de 2023. Como o sr. vê essa decisão de rejeitar o convite para ser membro do Brics?
Ernesto Araújo - Acredito que foi uma excelente decisão a de Javier Milei, de recusar o convite para ingressar no bloco. Conectou a Argentina ao mundo livre. Diziam que com essa decisão, ela sofreria perdas econômicas, mas isso já se mostra falso, Milei já está reduzindo a inflação e atraindo investimentos.
por Claudio Dirani
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