A punição do sucesso e o apoio ao fracasso
- Carlos Dias
- 5 de abr.
- 3 min de leitura
Uma análise filosófica e econômica do caso brasileiro

Em um país como o Brasil, onde a complexidade social e econômica se entrelaça com uma rica história e desafios persistentes, a observação de que se pune o sucesso com impostos e se apoia o fracasso com auxílios estatais revela uma distorção que merece uma análise mais sutil e aprofundada. A partir da perspectiva filosófica de Eric Voegelin, podemos identificar essa situação como um sintoma de desordem na alma da sociedade, uma perda da percepção da ordem transcendente que guia as ações humanas em direção ao bem comum.
Voegelin, em sua vasta obra, explora como as sociedades se desviam da realidade quando se apegam a ideologias que prometem soluções utópicas, mas que, na prática, acabam por corromper a ordem natural das coisas. No caso brasileiro, a tributação excessiva sobre o sucesso e a distribuição de auxílios sem critérios claros devem ser vistas como manifestações de uma mentalidade que busca a igualdade a qualquer custo, ignorando os princípios da justiça e da responsabilidade individual.
Sob a ótica da Escola Austríaca de Economia, representada por Ludwig von Mises e Friedrich Hayek, essa política de taxar o sucesso e subsidiar o fracasso gera consequências nefastas para a prosperidade e o desenvolvimento. Mises, em "Ação Humana", demonstra como a intervenção estatal na economia, especialmente por meio de impostos confiscatórios e políticas de bem-estar social mal planejadas, distorce os sinais de preços, impede a alocação eficiente de recursos e mina os incentivos para a produção e a inovação.
Hayek, por sua vez, em "O Caminho da Servidão", alerta sobre os perigos do planejamento centralizado e da crença de que o Estado pode conduzir a sociedade a uma condição de perfeição. A busca por uma igualdade forçada, por meio da redistribuição de renda, inevitavelmente leva à supressão da liberdade individual e à concentração de poder nas mãos do Estado, o que, por sua vez, abre espaço para a corrupção e o autoritarismo.
No contexto brasileiro, a alta carga tributária sobre as empresas e os indivíduos bem-sucedidos desincentiva o investimento, a criação de empregos e a geração de riqueza. Em vez de recompensar aqueles que contribuem para o progresso da sociedade, o Estado os penaliza, confiscando uma parcela significativa de seus ganhos para financiar programas assistenciais que, muitas vezes, não alcançam seus objetivos e perpetuam a dependência.
Ao mesmo tempo, a distribuição de auxílios estatais sem critérios rigorosos e sem a exigência de contrapartidas efetivas cria uma cultura de dependência e desincentiva a busca por autonomia e responsabilidade. Em vez de capacitar os indivíduos a superarem suas dificuldades por meio do trabalho e do esforço próprio, o Estado os mantém em uma situação de vulnerabilidade, tornando-os reféns de políticas paternalistas que visam apenas a garantir votos e manter o poder.
Essa inversão de valores, em que o sucesso é punido e o fracasso é recompensado, gera um ciclo vicioso de estagnação econômica e deterioração moral. Os indivíduos bem-sucedidos, desmotivados pela alta carga tributária e pela falta de reconhecimento, tendem a buscar alternativas para proteger seus patrimônios, como a evasão fiscal, a fuga de capitais ou a simples redução de seus investimentos. Enquanto isso, os beneficiários dos auxílios estatais, acomodados pela falta de incentivos para o trabalho e a iniciativa, permanecem presos em uma situação de pobreza e dependência, sem perspectivas de ascensão social.
Para superar esse quadro sombrio, é preciso repensar fundamentalmente o papel do Estado na economia e na sociedade. Em vez de buscar a igualdade a qualquer custo, o Estado deve se concentrar em garantir a igualdade de oportunidades, criando um ambiente favorável ao empreendedorismo, à inovação e à livre concorrência. Isso implica reduzir a carga tributária, simplificar a burocracia, proteger os direitos de propriedade e garantir a segurança jurídica.
Além disso, é fundamental reformular os programas assistenciais, tornando-os mais eficientes e transparentes, e condicionando-os à exigência de contrapartidas efetivas, como a participação em cursos de capacitação profissional, a busca ativa por emprego e o cumprimento de metas de desempenho. O objetivo deve ser capacitar os indivíduos a superarem suas dificuldades por meio do trabalho e do esforço próprio, em vez de mantê-los em uma situação de dependência permanente.
Para construir um Brasil próspero e justo, é preciso resgatar os valores da responsabilidade individual, do mérito e da livre iniciativa. Em vez de punir o sucesso e apoiar o fracasso, o Estado deve criar um ambiente em que todos tenham a oportunidade de realizar seu potencial máximo, contribuindo para o progresso da sociedade como um todo. Dessa forma será possível superar a desordem na alma da sociedade brasileira e construir um futuro de prosperidade e liberdade.
Comentários