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A Ingratidão da FURG : O enterro da própria história na lama do revisionismo

Foto: Suzy Hazelwood/Pexels


O filósofo Alain Finkielkraut descreve em seu livro A Ingratidão a relação do homem com sua história e com o sentimento de superioridade moral sobre o passado. Nascido em 1949, no imediato pós-guerra, Finkielkraut estava nas barricadas de Paris em 1968, mas a maturidade o conduziu a uma visão mais conservadora, expressada em livros como A Derrota do Pensamento, em que critica a crise cultural e a barbárie intelectual que se abateu sobre os tempos atuais.


Em A Ingratidão, o filósofo denuncia o relativismo cultural que erige a instrumentalização do vitimismo e reivindica o monopólio da memória. A expressão cunhada é “mentalidade de credores”, daqueles que se identificam com algum sofrimento passado e, por isso, atribuem a si próprios a imunidade para impingir sofrimento àqueles que direta ou indiretamente possuam algum vínculo com o passado.


Esta semana a FURG – Universidade Federal do Rio Grande cassou os títulos de Doutor Honoris Causa concedidos a três personagens do governo militar: os Generais Emílio Garrastazu Médici e Golbery do Couto e Silva, e o Almirante Maximiano Eduardo da Silva Fonseca. Nos dois últimos casos, a reação das famílias, do legislativo e da Marinha do Brasil foi fulcral ao desnudar a ingratidão da instituição em relação a pessoas que fizeram, com méritos, parte ativa da história da Universidade.


Em carta, os filhos do Almirante Maximiano da Fonseca agradecem, de forma irônica, à universidade a cassação do título pela certeza de que o antigo Ministro da Marinha não mais gostaria de pertencer a uma Universidade capaz de tamanha ingratidão. O título foi concedido ao Almirante Maximiano pelo notório incentivo às ciências do mar, pela viabilização da presença brasileira na Antártida e pela instalação definitiva de um Distrito Naval em Rio Grande. Os filhos do Almirante, recomendam ainda a leitura da edição de 23 de março de 1993 – quase dez anos após a transferência do poder aos civis, portanto – do jornal Agora, em que os presos políticos encaminhados ao Navio Hidrográfico Canopus em 1964, agradecem ao então Comandante Maximiano o tratamento dispensado enquanto prisioneiros.


Da mesma forma, Golbery do Couto e Silva Neto escreveu, com assombrosa perplexidade e com forte sentimento de ingratidão, contra a cassação do título concedido a seu avô, natural de Rio Grande e com influência na própria constituição da FURG. “Como neto, não me deixo abater por essa tétrica atitude, pois como honrosamente trago em meu nome toda a carga histórica de meu avô, não deixei de estudar com afinco sobre minha ancestralidade. Por isso posso andar de cabeça erguida, tendo a paz no coração por saber que Golbery do Couto e Silva fez muito mais do que se possa imaginar, não só por Rio Grande como pelo nosso Brasil”, afirmou Golbery Neto em sua carta.


A Marinha do Brasil emitiu nota em que destaca que a medida tomada diz respeito ao idealizador do Programa Antártico, o mais longevo projeto estratégico de pesquisa do Brasil, que acolheu inúmeros pesquisadores da FURG. Revogação enviesada, foi a expressão utilizada pelo Almirante Marcos Sampaio Olsen, Comandante da Marinha, para se referir à medida que atinge “a biografia de insígne “Marinheiro”, que ao longo de seus 47 anos de bons serviços prestados à Nação, é reconhecido, dentre outros motivos, por sua devoção à ciência.


Ato contínuo, no dia 09 de abril, o Vereador Júlio Cesar Pereira da Silva (MDB-RS) da Câmara Municipal de Rio Grande, protocolou requerimento no sentido de rever a cassação da Concessão destacando que os homenageados não requereram as comendas e que as mesmas foram ato unilateral dos integrantes da FURG à época.


Pois quem torna você diferente de qualquer outra pessoa? O que você tem que não tenha recebido? E, se o recebeu, por que se orgulha, como se assim não fosse? 1 Coríntios 4:7.


Créditos: defconbr.net

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